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Mote do encontro 09/12

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texto lido por Fernando Sousa Andrade Dez centímetros acima do chão   Não fale com fantasma Entre oito da manhã e dez da noite a porta de vidro fica liberada para entradas e saídas. O movimento é incompatível com a localização, uma esquina mansa do centro da cidade, e incompatível também com o espaço interno, um salão estreito e pouco profundo. Um café incompatível, é isso encaixado entre dois espigões numa fenda mínima, mínima. E se eu disser que a porta range serei pouco preciso: o rangido fará de você, entrante, o centro das atenções. Ninguém chega sorrateiro ao Tulipa Dourada, birosca mais antiga da região, ponto reverenciado por artistas sem palco e sem banda, e ainda hoje é assim, refúgio cultuado por velhotes sem ocupação e por turistas bem informados, que ficam extasiados com a atmosfera despencada do estabelecimento. Bacana visitar o Tulipa, bem bacana, você precisa aparecer por lá. É só descer daqui a duas estações e me seguir, ou perguntar para qualquer um

Mote do encontro 25/11

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Texto lido por Francisco Ohana Dom Casmurro     CAPÍTULO CXLVIII / E BEM, E O RESTO? Agora , por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira

Mote do encontro 11/11

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Texto lido por Vinícius Varela 234    32 Meu pai leva-me à porta do famoso noturno para a cidade grande: - Cuide-se, meu filho. É um mundo selvagem. Esse verbo clamante no teu ouvido. Por delicadeza, perdi a minha voz. Ó profetas ó sermões! - Longe da família, será você contra todos. Homem não se beija nem abraça, nos apertamos duramente as mãos. Me instalo a uma das janelas, com a vidraça descida. Mais que me esforce, impossível erguê-la. Já não podemos falar. Esse pai dos pais ali na plataforma, mudo e solene. O trem não parte. Fumaça da estação? De repente ei-lo de olhos marejados. 34 De repente ei-lo de olhos marejados. E, sem querer, também eu comovido. Diante de mim o feroz tirano da família? Ditador da verdade, dono da palavra final? Primeira vez, em tantos anos, vejo um senhor muito antigo. Pobre velhinho solitário. Merda, o trem não parte. Meu pai saca o relógio do colete, dois giros na corda. Pressuroso, digo que se vá. Doente, não