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Mostrando postagens de julho, 2014

Mote do encontro 29/07

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Texto lido por Fernando Sousa Andrade O louco de palestra  Em dezembro passado, o escritor gaúcho André Czarnobai, o Cardoso, publicou um diário na revista Piauí intitulado “Pasfundo calipígia”. Salvo engano, foi a primeira vez em que se utilizou em letra impressa o termo “louco de palestra”. Imediatamente, a expressão ganhou densidade acadêmica e popularizou-se nos redutos universitários nacionais, encorajando loucos latentes e chamando atenção da saúde pública para o problema. O louco de palestra é o sujeito que, durante uma conferência, levanta a mão para perguntar algo absolutamente aleatório. Ou para fazer uma observação longa e sem sentido sobre qualquer coisa que lhe venha à mente. É a alegria dos assistentes enfastiados e o pesadelos dos oradores, que passam o evento inteiro aguardando sua inevitável manifestação, com se dispostos a enfrentar a própria Morte. Há inúmeras categorias de loucos de palestra, que olhos

um útero é do tamanho de um punho - Angélica Freitas

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Recomendação de leitura por Guilherme Preger Recomendação de leitura de “um útero é do tamanho de um punho” de Angélica Freitas É sabido que os melhores presentes são aqueles que você mesmo gostaria de ganhar. Assim sendo, já presenteei amigos e amigas com esse livro, sem que eu mesmo o possua. Para escrever esta recomendação, tive que seguir o imperativo poético de Rimbaud e me tornei um “ladrão de fogo”, com o furto delicado de um exemplar. “um útero é do tamanho de um punho” (Cosac Naify, 2012) é o segundo livro de poesia de Angélica Freitas. O primeiro, Rilke Shake (Cosac Naify, 2007), fez sucesso pela linguagem bem humorada, quase ou inteiramente satírica. “um útero...” segue a mesma linha do humor e da linguagem cotidiana, coloquial.   Mas agora, dando uma cerrada unidade à obra, um assunto domina de ponta à ponta. Um tema tenso como uma mulher na TPM: a “condição feminina”. Dito assim, parece solene,   mas como diria o poeta Carlito Azeved

A morte de Pedro Ivo - Francisco Ohana

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A morte de Pedro Ivo Em alguns dias, meu filho decidirá morrer. Andava às voltas com problemas de programação linear, multiplicadores de Lagrange e demais aspectos da otimização. A tradição filosófica ocidental dos últimos seis séculos me facilitara a vida, esmaecendo a cada tratado qualquer traço de humanidade no que lia. Agentes representativos, aplicações mequetrefes do cálculo diferencial – pouco importa. Encanta-me que o tratamento dos temas do sustento material do homem, que um dia se revestiu de tonalidades políticas, hoje se reduza a uma receita de bolo baseada na resolução de equações recursivas no tempo. Tudo bem, isso não faz muito sentido, nem mesmo para mim, mas a mecânica do sistema é simples: você supõe que o indivíduo age racionalmente, que não morre nunca, que possui um modelo subjacente a seu processo de decisão intertemporal de alocação de tempo entre trabalho e lazer, considerando os sinais de mercado perfeitamente refletidos nos preços. Ufa! As if it w

O Doente - André Vianna

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Recomendação de leitura por Fernando Sousa Andrade  Uma vida tem lá seus aspectos literários. Um personagem preso na malha de sua história, as vezes perdido ou não dentro de seus conflitos internos; motivado a sair deles para chegar a uma ordem serena das suas questões. No livro o Doente de André Vianna pela Cosac Naify há uma narração em 1 pessoa sendo feita num formato de depoimento gravado para (você leitor) a um jornalista. Ele diz não acreditar na psicanalise como forma de cura. E numa relação entre o narrado e o vivido pois ambos interagem durante a gravação vai surgindo uma intimidade na relação interpessoal pelo relato do narrador. Ali não há um sujeito que apenas ouve amparado por um estrutura psicanalítica. O que se fala e ouve é compartilhado em ação, na medida que ambos atuam nas trocas, ações conjuntas entre quem narra e escuta.

Mote do encontro 08/07

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lido por Danielle Schlossarek  O diário de Anne Frank    Enquanto ela e eu estávamos sentadas no quarto, Margot falou que a notificação não era para papai, e, sim, para ela. Com esse segundo choque, comecei a chorar. Margot tem 16 anos – parece que eles querem mandar as garotas da idade dela para longe, sozinhas. Mas graças a Deus ela não vai; mamãe mesma tinha dito, e devia ser isso que papai quis dizer quando falou em irmos nos esconder. Esconder...onde nos esconderíamos? Na cidade? No campo? Numa casa? Numa cabana? Quando, onde, como...? Eram perguntas que eu não podia fazer, mas que ficaram girando em meu pensamento. Margot e eu começamos a pôr nossos pertences mais importantes numa pasta da escola. A primeira coisa que agarrei foi este diário e, depois, rolinhos de cabelos, lenços, livros da escola, um pente e algumas cartas antigas. Preocupada com a ideia de ir para um esconderijo, juntei as coisas mais malucas na pasta, mas não me arrependo. Para mim, as