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Mostrando postagens de setembro, 2014

Mote do encontro 30/09

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Texto lido por Marco Antonio Martire   O mundo se despedaça Okonkwo acabara de apagar a lâmpada de óleo de palma e de se deitar na cama de bambu, quando ouviu o agogô do pregoeiro da cidade perfurando a atmosfera tranquila da noite. Guim, gom, guim, gom - soava o oco metal. Depois, o pregoeiro transmitiu sua mensagem e, ao terminá-la, voltou a tocar o instrumento. E esta era a mensagem: pedia-se a todos os moradores de Umuófia que se reunissem na praça do mercado na manhã seguinte. Okonkwo ficou imaginando o que estaria acontecendo de errado, pois tinha a certeza absoluta de que algo ruim estava sucedendo. Discernira na voz do pregoeiro uma clara tonalidade de tragédia, e continuava tendo a mesma sensação à medida que a voz se tornara cada vez mais indistinta na distância. A noite estava muito calma. Eram sempre calmas, exceto as noites de lua cheia. A escuridão inspirava um vago terror nessa gente, mesmo nos mais corajosos. As acrianças eram advertidas de que não dev

Narrativas - Francisco Ohana

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Narrativas Ainda lhes restava alguma autoconfiança. Havia no centro da cidade uma espécie de edifício monolítico. Preto. Era menos que uma sentinela guia de destinos, menos que um canto de sereia perturbador de macacos e astronautas temerosos. Acho mesmo que, pela irrelevância, pode não ter acontecido nada do que digo, e que minha memória seja mais uma contação, apenas. Da janela da torre não se vê muita coisa, mas o suficiente para notar que funcionários fechavam às pressas os portões em torno na tentativa de barrar os manifestantes. Vinham em traje típico e alguns tinham arco e flecha em mão. Canteiros inclinados ladeavam o prédio, cercado de grades que haviam sido transpostas pelas gentes em movimento. Uns penduravam-se no cercado e gritavam uma cantoria de bando. Outros apontavam flechas para fileiras de homens uniformizados, curvos detrás dos muros e paredões da estrutura, esgueirando-se ao modo dos primatas iniciais na iminência de um salto maior. No gramado viam-se cocar

Mote do encontro 16/09

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Texto lido por Daniel Russell Ribas Meu coração de pedra -pomes     Se eu fosse a mulher oficial de José Júnior, chegaria gritando na sala: "Este homem tem um pau, ouviu? Tem um pau!". É assim que eu imagino as tias, sempre pérfidas, com suas pernas compridas e desproporcionais demais ao resto do corpo. E, portanto, quem vai me questionar? José Júnior acha que minha imaginação fede. "Exagerada e doentia", ele diz. Mas, xoxotamente falando, comigo está feliz. Quando ele está no lugar que eu chamo de "mansão dos falidos", com a família toda reunida em comunhão de males, mando fotos comoventes para ele. Coloco uma lingerie e vou clicando enquanto tiro as peças com delicadeza. Começo com as alças do sutiã, depois vou descendo, até ficar completamente nua. Sempre tiro fotos dos meus lábios ferinos, abertos como se gemessem. Vou mandando pelo celular aos poucos, é sempre importante demorar entre uma foto e outra, para deixá-lo entretido n