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Mostrando postagens de maio, 2016

Mote do encontro (07/ 06/ 16)

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Mote lido por Daniel Russell Ribas Morangos mofados   Terça-feira gorda (trecho) Brilhávamos os dois, nos olhando sobre a areia. Te conheço de algum lugar, cara, ele disse, mas acho que é da minha cabeça mesmo. Não tem importância, eu falei. Ele falou não fale, depois me abraçou forte. Bem de perto, olhei a cara dele, que olhada assim não era bonita nem feia: de poros e pelos, uma cara de verdade olhando bem de perto a cara de verdade que era a minha. A língua dele lambeu meu pescoço, minha língua entrou na orelha dele, depois se misturaram molhadas. Feito dois figos maduros apertados um contra o outro, as sementes vermelhas chocando-se com um ruído de dente contra dente. Tiramos as roupas um do outro, depois rolamos na areia. Não vou perguntar teu nome, nem tua idade, teu telefone teu signo ou endereço, ele disse. O mamilo duro dele na minha boca, a cabeça dura do meu pau dentro da mão dele. O que você mentir eu acredito, eu disse, que nem marcha antig

Mote do encontro (24/ 05/ 16)

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Mote lido por Morena Madureira Tanto faz Saímos, eu e o Chico, do fundo da terra para a noite chuvosa do boulevard du Montparnasse. Entramos correndo no café da esquina, encostamos a barriga no balcão. -           Dois demis – comanda Chico – pedindo chopes ao garçon. -           O meu escuro, s’il vous plait – acrescento. O barman não me dá pelota, absorto em seu tédio profissional. Mas acaba trazendo um claro e outro escuro, como pedimos. Afundamos juntos os narizes na espuma. -           Você acha que passou por paquera barata o convite que eu fiz pra Pamella? – começa Chico, paranoico de carteirinha. -           Ué? Por quê? -           Sei lá... essa mulherada aqui da Europa é diferente. Tudo feminista, bi, trissexual, todas com mil giletes na língua. Elas têm ódio à paquera. Consideram uma violência, um crime.   Ainda vão conseguir passar um alguma lei proibindo a paquera, o flerte discreto e até o olhar de esguelha, você vai ver. Passar por uma gos

Mote do encontro (10/ 05/ 16)

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Mote lido por Daniel Russell Ribas Muito barulho por nada Quinto Ato Cena 1 LONATO – Eu te peço, chega de conselhos, pois eles caem em meus ouvidos tão inúteis como a água numa peneira. Não me dês conselhos, nem permita que consoladores outros venham me agradar os ouvidos, exceto se for alguém cujos agravos sejam comparáveis aos meus. Arranja-me um pai que amou tanto quanto eu a uma filha, motivo de seu orgulho e sua alegria, agora dominado por dor como esta minha, e pede a ele que me fale de paciência. Que a desgraça dele venha medir o comprimento e a largura da minha, e que se correspondam, o meu cansaço e o dele; que se possa ver um tanto cá e um tanto lá, um pesar tão importante nele quanto em mim, em cada feição, em cada ruga, na forma e no formato. Se esse sujeito sorrir e alisar a barba, despachar a tristeza, com um “Harrã” limpar a garganta em vez de gemer de dor, usar provérbios como curativos para o luto, embebedar o infortúnio com filosofices de