Postagens

Mostrando postagens de junho, 2016

Homens não choram

Imagem
Homens não choram Gabriel Araújo de Aguiar - Pai, eu acho que não sou homem... Decepcionado, o pai chorou. Aliviado, o filho sorriu, vendo que o pai também não era. (O microconto “Homens não choram”, Gabriel Araújo de Aguiar, de Brasília, foi vencedor do 4º Concurso de Microcontos de Humor, do 41º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, de 2014) Mote do encontro de 05/07/2016

Alfa

Imagem
Assumir a relação era para ela um problema. Acreditava em morar livre e só nesta parte do mundo, compartilhando a rotina com um cachorro parceiro e amigo. Morava por aqui longe dos pais e do irmão. Tinha família grande, tios e tias e primos, moravam longe também. Cuidava de um carro novo, usava para trabalhar, só para o trabalho, gostava de ônibus e metrô.      Passeava com o cachorro quando conheceu o Vitor. Conversou com o rapaz primeiro por quinze minutos, na calçada do meio de semana, o tráfego muito intenso, som de tráfego e canto de cigarras. Não resistiu, ele pediu e ela aceitou sua amizade no facebook. Conversaram muito online, à tarde e à noite e pela manhã. Descobriram preferências de um e outro devagar, havia um clima de romance no ar, mas ela foi levando com calma. Havia livros e séries de tevê, havia celulares e tablets, havia os amigos da vida e da internet. Vitor era sem dúvida seu amigo da internet. Os dois brincavam muito pela rede, o cachorro dela junto da ca

Nine out of ten

Imagem
Nove em cada dez estrelas de cinema me fazem chorar, eu estou vivo. Pairo como um quase nada sobre uma terça-feira emagrecida, reúno meus pedacinhos desconectados, as terças-feiras parecem mesmo ter esse direito de ser sempre chuvosas e nubladas. Um dia frio é bom para comer um croissant. O primeiro golpe lhe foi desferido na cabeça com um alicate, como uma coronhada. O sangue verteu, verteu e verteu e, antes que se pudesse dizê-lo morto, os olhos escuros e pequeninos se dilataram, e o corpo caiu no chão, tombado como um prédio histórico. O segundo golpe foi uma flecha que, atirada por um índio que vivia às margens do Tapajós, acertara-lhe em cheio a cara, e o sangue escorria pelas bochechas aos borbotões. Que não devia era mexer com os índios, a lição que sua mãe lhe dera. O terceiro golpe veio pelos cavalos esbaforidos que levantavam a poeira da terra por entre os trotes, mas apesar das ferraduras, quatro por animal, não se tratava de um golpe de sorte: era

O banheiro dos meninos

Imagem
O banheiro dos meninos, por Morena Madureira Isso aconteceu no ano passado, mas parece que faz um tempão, porque depois que aconteceu foi tanta coisa que não dá nem pra contar com uma mão só. Tem que usar as duas. Na verdade tem que usar os dedos do pé também e nem assim dá pra contar tudo. Tem que pegar uns dedos emprestados. Antes de acontecer eu tava lá, na minha, no começo do quinto ano. Eu era do 5 o B. Aquele da sala no final do corredor, em frente ao banheiro dos meninos. Eu sentava todo dia na cadeira da segunda fileira encostada na parede, de frente pra porta. Atrás do Zeca e na frente do Felipe Silveira. Todo dia eu sentava lá. Como na nossa escola não tem ar condicionado e os ventiladores são umas geringonças velhas e barulhentas, que ficam rangendo a aula toda, a professora deixava sempre a porta aberta, e eu acabei pegando mania de ficar olhando o entra e sai do banheiro dos meninos. Eu ficava olhando mais quando a aula tava chata, o que acontec

CU

Imagem
CU, por Guilherme Preger O Comando Unitário – CU – determina que a palavra GOLPE deixe de ser utilizada nas mensagens de nossos órgãos intestinos de mídia. Ela deverá ser substituída pela locução “Impeachment democrático e constitucional”, termo mais correto e verídico conforme os mais aprofundados e penetrantes estudos de ciência governamental. Igualmente, o CU solta a determinação da extinção dos Ministérios de Cultura, Ciência, Tecnologia, Inovação, Imaginação, Literatura e Cinema por serem excessivamente custosos, completamente ociosos e, com essa decisão do Universo Racional, evita a proliferação de criadouros de vagabundos e viados. Adicionalmente, o CU releva o Ministério das Mulheres para a Secretaria das Mulheres que é mais representativo de sua condição de gênero, já que a maioria dos seres do Mundo Feminino exerce a profissão de secretariado, sem que haja o menor desapreço por essa profissão, a mais antiga da humanidade. Consecutivamente, o CU cria, por meio dess

Mote do encontro de 21/06/2016

Imagem
O Mito do sofrimento Não diria que escrever é sofrido, Aliás, acho engraçado quando algumas pessoas dizem que escrever dói. Claro que a literatura é um pouco árdua, exige um tipo de esforço prolongado e uma dedicação que pode ser difícil, mas isso não quer dizer que ela é sofrida. A dificuldade não implica necessariamente em dor. Quando termino um livro me dá um pouco de alívio por ter conseguido fazer aquilo e poder tirar o foco de algo que ficou tanto tempo me consumindo, mas isso não significa de maneira alguma aliviar algo doloroso. Outro mito é o de que a boa literatura depende de experiências que carreguem sofrimento. Para mim, não existe essa ligação. Lido por André Salviano Daniel Galera, 23 de junho de 2009 in Ofício da Palavra, organizado por José Eduardo Gonçalves.