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Mostrando postagens de setembro, 2017

A benção do malandro, de José Fontenele

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A bênção do malandro Quem nota o seu Cesinha desacompanhado na mesa da diretoria da Estudantina pode pensar que ele é apenas um homem idoso utilizando o privilégio de sua idade. Supor isso denuncia que a pessoa ou é novata naquela gafieira ou não conhece as malevolências amorosas do malandro. Chapéu Panamá de abas curtas, paletó sempre branco e engomado, camisa de algodão de listras branco-pretas do glorioso Botafogo, calças brancas de leve brim e sapato social como a luz da lua, seu Cesinha não risca o salão por impedimento de suas mulheres. Elas têm medo de ganhar outra concorrente. Digo mulheres porque o malandro é casado de forma civil com a mulata Dolores, mas também dedica atenção amorosa para a mãe dela, a Serafina. O segredo da relação dupla sempre foram as palavras e o gingado dentro e fora da gafieira. Malandro altivo, o Cesinha, antes de ser respeitado, era um excelente dançarino e um convicto sedutor. Quando as madamas desciam para testar seus passos lá onde a dança de

Amor a quem?, de Bertold Brecht

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Dizia-se da atriz Z. que ela tinha se suicidado devido a um amor infeliz. O sr. Keuner disse: “Ela se suicidou por amor a si mesma. De todo modo, ela não pode ter amado X. Senão ela não lhe teria feito isso. Amor é o desejo de dar algo, não de receber. Amor é a arte de produzir algo com as capacidades do outro. Isto requer atenção e afeição do outro. Isto sempre se pode obter. O desejo exagerado de ser amado tem pouco a ver com amor genuíno. O amor a si tem sempre algo suicida” Conto vencedor lido por Walter Macedo para o encontro de 03/10/2017 Retirado de Histórias do Sr. Keuner, Editora 34

A peleja do Seu Sete contra o General, de Luiz Antonio Simas

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A peleja do Seu Sete contra o General | Conheço poucos fuzuês brasileiros que se comparem ao que acontecia na década de 1970, em Santíssimo, pertinho de Bangu. Em um galpão transformado em terreiro de umbanda, a médium Cacilda de Assis recebia Seu Sete da Lira, um exu fuzarqueiro e sedutor. Os pontos eram tocados em ritmo de samba, ao som de tambores, pandeiros, chocalhos, cavaquinho e acordeão. Seu Sete, ao lado de 5 mil médiuns e de multidão de clientes, aparecia em grande estilo, de cartola, capa, colete, garrafa de marafo na mão e o escambau. Dava passes, cuspia cachaça em todo mundo e atendia o povão, artistas e autoridades. O sucesso foi tanto que Seu Sete baixou, ao vivo, nos programas do Chacrinha, na TV Globo, e de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi. O jornal O Estado de São Paulo (03/09/1971) noticiou o babado da seguinte maneira: "A disputada mãe de santo Dona Cacilda de Assis transformou os estúdios da Globo e da Tupi em verdadeiros terreiros de macumba. Embora as apre

O Terraço, de Guilherme Preger

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No meu emprego, aumentaram as horas de trabalho desde a última crise. A explicação que os patrões deram é que, como caiu o preço dos produtos, tornou-se necessário produzir mais para compensar a queda de receita. O resultado é que estamos trabalhando pelo menos duas horas a mais diariamente. Se vendemos mais, aumentam as comissões. O problema é que estamos em crise e as vendas caíram, e mesmo produzindo mais, os consumidores estão comprando menos. Parece contraditório, mas os patrões disseram que todo o excedente de produção está sendo guardado em armazéns confiáveis. Assim, quando as vendas voltarem a aumentar, poderemos trabalhar menos e compensar o tempo trabalhado a mais. Não entendemos muito bem essa história de compensação, mas aceitamos assim mesmo. Todos nós precisamos de trabalho. É melhor do que mendigar nas ruas. Todo dia acordo muito cedo para chegar ao trabalho no horário certo para não ser descontado. Todos os trabalhadores têm uma tolerância de 15 minutos para pas