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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

Frankenstein, ou o Moderno Prometeu, de Mary Shelley

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A criatura acabou de falar, e fixou seus olhos em mim à espera de uma resposta, mas eu estava perplexo, confuso e incapaz de organizar minhas ideias para entender toda a extensão de sua proposta. Ele continuou: “Você tem que criar uma fêmea para mim, com quem eu possa viver numa harmonia compatível com as necessidades de meu ser. Isso, só você pode fazer. Eu o exijo como um direito que você não pode recursar.” A última parte de seu relato reacendera novamente minha ira, que havia se extinguido quando ele narrara sua vida pacífica entre os moradores do chalé, e, quando ele disse aquilo, já não pude conter a raiva que quiemava dentro de mim. “Eu recuso”, respondi; “e nenhuma tortura jamais arrancará de mim um consentimento. Você pode me tornar o mais infeliz dos homens, mas nunca conseguirá aviltar-me a meus próprios olhos. Criar uma outra criatura como você, cuja maldade conjunta poderia devastar o mundo? Vai embora! Já lhe respondi. Mesmo que me torture, eu jamais con

A Marcha de Alberto, de Bruno Flores

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A marcha de Alberto O velho almirante Braga abria caminho na multidão entre o Gandhi, a Marilyn Monroe e o Saci Pererê. Corpos suados bailavam entre confetes e serpentinas, enquanto uma colorida bola de praia era estapeada pra lá e cá sobre o mar de cabeças. Uma fadinha purpurinada passava em pernas-de-pau, outra balançava um bambolê e homens vestidos de noivas, baianas e quengas tocavam instrumentos. Era a vitória inquestionável da insanidade coletiva. Afinal, não se tratava de um pesadelo nem o velho almirante estava alucinando ou ficando gagá. Era, sim, aquele período em que a cidade obtinha o alvará da vagabundagem para cinco dias de embriaguez, galhofa e sem-vergonhice. Era o maldito carnaval carioca. O teu cabelo não nega mulata Porque és mulata na cor Mas como a cor não pega mulata Mulata eu quero o teu amor A marchinha trouxe lembranças dos bailes de gala no Teatro Municipal, ele e os colegas de escola naval vestindo fraques elegantes, as mulheres brilhando em fanta

Cló, de Lima Barreto

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CLÓ O doutor Maximiliano bebeu ainda uma cerveja e, acabada que foi a cerveja, saiu vagarosamente um tanto trôpego. A noite já tinha caído de há muito. Era já noite fechada. Os cordões e os bandos carnavalescos continuavam a passar, rufando, batendo, gritando desesperadamente. Homens e mulheres de todas as cores - os alicerces do país - vestidos de meia, canitares e enduapes de penas multicores, fingindo índios, dançavam na frente ao som de uma zabumbada africana, tangida com fúria em instrumentos selvagens, roufenhos, uns, estridentes, outros. As danças tinham luxuriosos requebros de quadris, uns caprichosos trocar de pernas, umas quedas imprevistas. Aqueles fantasiados tinham guardado na memória muscular velhos gestos dos avoengos, mas não mais sabiam coordená-los nem a explicação deles. Eram restos de danças guerreiras ou religiosas dos selvagens de onde a maioria deles provinha, que o tempo e outras influências tinham transformado em palhaçadas carnavalescas... Certament

A folia, de Guilherme Preger

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Prezados, já temos o plano detalhado para o ensaio geral de nosso enredo, “Os Patos no Maravilhoso Reino da Folia Golpista”. Começaremos o desfile com um grande carro abre-alas, o “Pato Rei”, composto pela enorme alegoria de um majestoso Pato, com 20 metros de altura, todo realizado em teflon amarelado e ilustrado com motivos decorativos de nosso artista convidado, o pintor Romero Britto que veio diretamente de Miami para participar de nosso barracão. Logo em seguida virá nossa Comissão de Frente, cujo mote será “Salvação Nacional” e cujos integrantes virão com cartolas e fraques, relembrando nossos saudosos Barões do Império. Eles virão fazendo mesuras aos milhares de patos das arquibancadas e camarotes. Em seguida, teremos o sensacional dueto de passistas. Nosso Mestre-sala virá caracterizado com a fantasia do mediúnico patrono Romero Jucá, vestido de cartomante e com cartas e búzios na mão. A Porta-Bandeira trará uma inovação arrasadora: em vez de portar uma bandeira num esta